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sexta-feira, março 09, 2012

Historinha marota


Episódio 3 – A coragem dela e a lição dele

Resumo a partir do final do último episódio (hoje vai ser pequeno): Lívia acabou conhecendo boa parte da família dele: a mãe, a irmã, o cunhado dele, os avós, os tios e as primas. Foi uma festa. Helena, ficou sem falar muito, quieta no seu canto sem muita coragem para falar muito – e também pelo fato de que ali ela era apenas uma coadjuvante.
Uma hora – bem infeliz para ele – a mãe e a irmã dele levaram Lívia para o quarto e começaram a fofocar. Helena decidiu não ir, por que provavelmente estavam fofocando sobre o Guilherme. Então na sala permaneceram apenas ela, ele, o cunhado dele e os avós, vendo o filme da tarde e conversando sobre coisas sem muita importância.
Quando finalmente elas saíram do quarto, a mãe de Guilherme pediu para ele comprar salgadinhos, para eles fazerem um “lanche” com coisas bem simples. Como já era domingo à tarde, o supermercado que ficava lá perto estava fechado, e a única opção era o hipermercado, a uma boa distância da casa dele – quase 15 minutos a pé.
Assim que ele estava saindo de casa (bem contrariado), Helena se candidatou para ir com ele. Não vendo motivo algum para ela não ir, ele aceitou a companhia dela.
Vinte minutos depois, quando eles estavam a duas ruas do hipermercado, Helena parou:
- Guilherme, eu preciso falar com você.
O coração dele parou por um instante. Aquilo não poderia ser boa coisa.
- O que foi? – ele se sentiu de volta aos tempos de Ensino Médio.
- Eu... acho que eu to gostando de você – completamente diferente do modo como ela ensaiara, horas antes. Agora Lívia suspeitara do perrengue que ele tinha passado quando se declarou para ela.
Ele a encarou por um longo minuto, sem acreditar no que tinha ouvido. Agora, depois de tanto tempo, parecia improvável.
- Gostando de mim?
- É, gostando de você.
- Desde quando?
- Desde que vocês começaram a namorar.
Uma risada escapou da boca dele.
- Agora? Agora é que você está gostando de mim? Quando eu passei mais de um ano apaixonado por você, tu tava nem aí pra mim. Agora que eu namoro, tô feliz e te superei, você diz que está gostando de mim?
- É que antes eu não sabia como seria – ela tentou explicar, mas foi cortada por ele.
- Não sabia? Helena, acorda! O tempo que a gente se conhece eu acho que já deu pra você perceber como eu era. Que eu não era do tipo de garoto que só queria ficar com você para depois ficar me exibindo pela escola. E, seu eu fosse, não ia gastar todas as minhas energias em algo que desde o começo não dava sinais que ia dar certo, se era só pra falar: “Eu fiquei com ela”. Eu tava a fim de um relacionamento sério, por isso eu insisti nisso por tanto tempo. Agora que eu tô namorando você vem e fala isso?
- Mas ela é a minha prima, isso não quer dizer que você ainda...?
- NÃO, EU SUPEREI. Eu fiquei com ela antes de saber que ela é a sua prima.
Os dois ficaram se encarando. O showzinho no meio da rua rendera três ou quatro expectadores, um deles um cara bêbado rindo da cara dos dois.
- Vamos lá, comprar os salgadinhos – Guilherme cortou o silêncio. Se sentindo ligeiramente mal por ter gritado.
O clima entre os dois ficou bem tenso. Não que o fato de ele ter ficado com a prima dela antes de saber que elas eram parentas fosse algo revelador, mas acabou com todas as esperanças de Lívia. Quando estavam voltando para casa, com várias sacolas reutilizáveis cheias de salgadinhos, Guilherme tentou quebrar o clima:
- Desculpa ter gritado com você. Eu sei como você está se sentindo.
Ela balançou a cabeça.
- Não, você está certo – ela respondeu, sem olhar para ele.
- Poxa Helena, não fica assim que eu vou me sentir mal.
Ela o encarou, os dois pararam novamente.
- Eu devia ter percebido antes que você queria um relacionamento sério, e não apenas uma ficada de um dia.
- Foi como você havia me dito: não teria sido recíproco da sua parte. Isso passou. Mesmo quando eu estava loucamente apaixonado por você, eu sabia que eu não era o cara certo pra você, até nos momentos que eu tentei me enganar, eu sabia que não te merecia. Eu era um dos piores da sala, não prestava atenção em nada, tinha conhecimentos escassos de tudo, inclusive das coisas que você gostava. Você merece coisa melhor.
- Talvez alguém melhor não vá me tratar como você poderia me tratar.
- Você não me quis aquela época. E outra, eu não vou machucar a sua prima, que gosta muito de mim e de você também, só pra você testar isso. Eu trato a sua prima da mesma forma que alguém apaixonado trata a pessoa amada, creio eu. Quando você achar o cara certo, ele vai te tratar da mesma forma.
Ela recomeçou a andar. Depois de alguns metros, ela voltou a falar.
- Desculpa por isso.
- Você se lembra do que eu te disse uma vez? “É melhor se arrepender de ter feito do que se arrepender de nunca ter tentado”. Se arrependa por ter falado, antes de se arrepender de nunca ter dito o que sentia e ficar com esse enorme “e se...” pelo resto da sua vida.
Ela soltou um leve sorriso.


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